quinta-feira, dezembro 15, 2011

Contudo

Έχω πολλούς λόγους να είναι ευτυχισμένος, αλλά είμαι λυπημένος.

A vida

É daquelas piadas longas, que a gente só entende no final. 
Mas tem que rir durante.

Contexto

Ouvi uma estória que gostei uma vez, sobre uma receita de pernil assado.
A receita atravessou gerações, assim passou pela avó, que a passou pra mãe, e esta para a filha.
Quando a filha se casou e mudou pra sua própria casa, com sua própria cozinha
onde poderia fazer finalmente o tal pernil, sua mãe ensinou a receita já tradicional
religiosamente, exatamente como ouviu de sua mãe.
A filha viu como a mãe cortava um largo pedaço de osso que continha muita carne, e deixava de lado,
enquanto o resto ia para o forno de um fogão grande e novo. Decidiu apenas continuar a observar.
Durante o jantar de inauguração, com a presença ilustre da avó, a jovem ainda curiosa sobre
os procedimentos da receita, perguntou à mãe se aquele pedaço da carne não prestava, por isso foi deixado de lado. A mãe não soube responder, mas disse que achava que sim.
A avó então quase engasgou, rindo-se toda, e explicou que não, a parte cortada era tão boa quanto o resto do pernil. Mas quando ela precisava colocar a carne no forno minúsculo que havia em sua antiga casa, o pernil não entrava por causa do tamanho e ela precisava cortar fora um pedaço.
Tanto avó quanto neta riram muito com isso, enquanto que a mãe ficou um tanto envergonhada por nunca ter tido a coragem de questionar a receita tradicional.



segunda-feira, novembro 07, 2011

I Cant

I CANT FUCKING BE SAD.
I JUST DONT HAVE THE RIGHT TO IT.
SAD PEOPLE DONT HAVE THE FRIENDS THAT I'VE GOT.
I DONT HAVE THE RIGHT TO BE SAD.

segunda-feira, outubro 24, 2011

O vidro

Dentro do trem urbano, uma moça jovem, sozinha, encarava a porta corrida de chuva.


No vidro embaçado, desenhou um rosto sorridente, de cabelo espetado e olhos tristonhos. Passou uma estação encarando o sorriso e sendo encarada de volta, e então desceu.

Em seu lugar, um senhor barrigudo, de macacão azul de trabalho e falando ao celular, passou a encarar o sorriso recém nascido. Sorrindo, provavelmente personificava a pessoa na linha - a patroa, ou outro ente querido que o esperava em casa - na figura do vidro à frente.

Quando sua estação chegou, o senhor barrigudo deu lugar a um casal que mal notou o sorriso voyeur, e logo desembarcou, abrindo caminho à mulher de meia idade que lia um livro. Deve ter se sentido um tanto incomodada com a curiosidade do rosto sorridente em querer saber do que se tratava a obra.

Não sei se ela chegou a compartilhar da estória, já que minha estação chegou e eu desci, não sem mandar um até logo silencioso ao amigo do vidro, que seguiu em frente com o tram, sempre olhando para dentro e para fora ao mesmo tempo.

segunda-feira, março 21, 2011

O Senhor

O senhor mandou enforcar ao ferreiro, o qual, em terrível desobediência, havia feito uma péssima armadura com as leveduras entregues pelo granjeiro indicado pessoalmente pelo senhor.

O porquinho da Índia

Ela acabara de ganhar um porquinho da índia. Estava aterrorizada. O porquinho da índia era saudável, todo malhado de marrom e branco, e em toda sua vida havia a menina ouvido que todos os bichos haviam de ser brancos, pretos ou marrons. Malhado não podia, era coisa do demo.
A menina então achou um talco vencido que ninguém era capaz de requisitar e polvilhou o porquinho da índia, coitado, que ficou todo confuso. O porquinho malcriado tentava lamber fora todo aquele talco, mas nunca que a menina deixava, tascava mais talco no lombo. Ela não queria que soubessem que seu porquinho da índia era malhado, porque lhe haviam dito que bicho só podia branco ou preto ou marrom. Malhado, só coisa do demo.
Mas aí choveu.

Qual vida?

Sabor amargo com aromatizante artificial doce ou doce com validade vencida?

Awkward

Essa preocupação só busca o descanso de sua própria ansiedade; não tem nada a ver com a necessidade de saber de verdade como vai minha sofrida sanidade. Então foda-se!

sexta-feira, fevereiro 18, 2011

Uma dessas noites

O degrau rangeu, indignado, quando ele subiu tremendo as escadarias daquele prédio escuro.
A construção centenária em volta dele era tão acolhedora quanto um picolé de uva deixa nossas manhãs de inverno mais quentinhas. O piso embaixo dos degraus era tão fino que se tornava questão religiosa acreditar que aguentariam seus passos.

O som súbito e estranhamente coletivo de passadas cheias de unhas descendo em sua direção fez com que ele simplesmente se encolhesse o quanto podia junto à parede, e na falta de luz, ele sentiu um putaqueopariuqueporraéessa passar roçando os pelos carpetianos no seu casaco semi-funcional pela altura do peito. O momento durou pra sempre, mas finalmente o ____ passou por ele e voltou a virar som.

Ao chegar ao último e mais frio de três andares incrivelmente altos, o aprendiz olhou para o poço abaixo e se perguntou se havia de fato tido a coragem de completar aquela escalada no breu.
Passou à varanda do pátio, que a lua iluminava fracamente por entre as nuvens, revelando a neve que caía miseravelmente. Um babuíno distinto, vestido de sobretudo e cachecol, e com o olhar fixo num dos muitos fósseis que compunham o mineral que servia como piso, fumava seu cigarro barato na outra ponta do pátio. O pupilo fez o que pôde para ignorá-lo e seguir até os portões que ainda teria que atravessar antes de tudo acabar.

Os portões eram o pior de tudo, a cereja negra do bolo de cal. Suas 377 trancas se abriam com a mesma chave, mas a ordem e o sentido em que ela devia ser virada eram estritamente precisos.

Os ossos do garoto foram encontrados quase 3 anos depois, ainda agarrados à chave presa ao contrário em uma das trancas filhas da puta.