terça-feira, agosto 26, 2008

Seu Antônio

- Levaram lá pra cima, dona.
- Como pra cima?
- Lá pra cima, no sótão.
- Como levaram, se eu avisei que era pra deixar tudo aqui embaixo?
- Disso aí eu não sei não, dona. Sei que isso aí que a senhora tá perguntando tá lá em cima, porque eles levaram. Tá lá junto com as enciclopédias do doutor.
- Seu Antônio, o senhor está querendo me botar doida? Quero tudo aqui pra baixo neste minuto!
- Dona, isso não pode... tem que ir lá chamar os meninos, e eles já foram pegar a condução.
- Então vão ficar sem receber, e o senhor suba comigo, que a gente vai descer o que nunca devia ter saído daqui de baixo, seu infeliz.
- Dona, o corredorzinho aí de cima não pode com a senhora, a senhora morre.
- Não me encha o saco, homenzinho, que eu não estou podendo.
- A senhora é que sabe, dona Simone.

Fechamento

A Simone disse que até umas onze e meia já teria resolvido tudo e estaria tudo bem. E até agora continuamos na mesma merda. E cadê a Simone pra gente tirar satisfação? Sumiu, como sempre faz em dia de fechamento. Fechamento de merda, isso porque nunca fecha. Imagina se fechasse... Ia levar o dedo de alguém junto, ah se ia. E o meu é que não ia ser. Ia ser o da dona Simone, com toda certeza. E cadê a Simone, por falar nisso? Ela disse que até as onze e meia já ia estar tudo certo, e até agora nada.

Pomerode

E não? E não?!
Como assim, não? Agora é não? E antes que era talvez, e antes? Ora, vá se fundir!
Esse mundo está todo fundido, tudinho fundido, que nem queijo de Pomerode.
É o que eu digo e é o que é. Pelo menos, é o que parece. E se parece, está muito bem.

Groselha

Percebi que você mencionou o cheiro. Ou terá sido o aroma? Ou o azedume, ou a catinga, ou o momento? Bom, sejá lá o que Deus tenha colocado na sua boca, isso pra mim serve. Pois é, digo que serve sim, por quê essa cara de espantado? Vá pro meio daquele lugar fundido, se é o que quer saber, também não serve coisíssima nenhuma mais. Sai fora com essa cara de desconfiado, que eu sou mais interessado noutra coisa. Bora então, seu tratante tratador de tratores milho de uma fruta, bora tomar um picolé de groselha antes que derretam todos os nascidos desse mundo.

Fundo

Fundo de quê, minha gente, fundo de quê?!

Padrezinho

E lá no fundo, uma vozinha mirradinha de menino saído do berço: 'mém!
A mãe se virou, e pachorrenta, fez cara de "por isso não", e meteu a mamadeira de volta dentro dos beiços sambantes do moleque antes que ele pudesse sair benzendo alguém, que nem fez (direitinho, assim que nem um padrezinho gente-boa!) na semana passada.

Notinha

Se bem que uma notinha gratuita não iria mal... não mesmo, mesmíssimo, como diria meu pai. Só que nada vem fácil... vai fácil, mas vir? Ha, isso aí é pra gente de outro escalão. O meu, assim de gente comedida e lampeira, não funciona desse jeito não. E eles vêm falar que sim? Ah, claro que sim, faça-me o favor... No fim das contas, o que a gente têm que fazer mesmo é levantar as mãos (essas mãos que já fizeram tanta coisa, meu Deus...) pro céu do Divino e saudar a bem-boa época que já está aí. Isso é o que devia ser o certo... devia e deve ser, e é o que é direito, e é o que nós vamos fazer. Mas uma notinha gratuita... Ah, pro inferno com essa esperança maldita, que: que nem coisa ruim, é a última a quebrar, e, antes de quebrar, quebra a gente todinha por dentro, e nem vem limpar os caquinhos depois, é o que eu digo, e é o que é, veja só. Alguém aí no fundo, diga amém pr' eu ouvir.

segunda-feira, agosto 11, 2008

Conforme o planejado

Amanhã, quando toda aquela merda tiver começado, é bom você não sair do meu lado. Não ri que eu tô falando sério! Se te botarem no saco e te encherem daquelas presilhas infernais outra vez, não vem chamar pelo rádio que eu não vou correr pra salvar ninguém! Já disse que é sério! Eu desligo a droga do rádio e quero ver se você vai rir. Se você sumir dessa vez, não garanto que vá sobrar unha pra crescer tudo de novo. Aí vamos ver quem é que vai rir, seu animal.

Terras tomadas

E só então eu percebi... só então eu pude enxergar o que estava ali todo aquele tempo! Absurdamente bem diante dos meus olhos: o tudo era o nada e o nada era o tudo. Só isso. Assim óbvio, diabólicamente simples... Saí da gruta e pisquei diante da luz forte do meio-dia. Quando meus olhos se acostumaram à claridade, me dei conta: era tarde demais. Estava completamente cercado de Belzebus, todos vestindo suas confortáveis pantufas.... Aquelas pantufas, apenas para despertar o ódio dentro de nós (em cada um que foi caindo, até que apenas eu sobrei), feitas com clones do pobre Matuto Sexta Feira. Se ele ao menos soubesse... Então fui atingido por Sinos de Belém vindos só Deus sabe de onde, e apaguei.

Soninha

Prezados amigos, colegas e amados de Santa Catarina! Os senhores não imaginam o quanto me comprazo em estar diante de vocês especialmente para trazer esta notícia de teor tão maravilhosamente bombástico: Soninha calou-se. Os mares são navegáveis mais uma vez!