Dentro do trem urbano, uma moça jovem, sozinha, encarava a porta corrida de chuva.
No vidro embaçado, desenhou um rosto sorridente, de cabelo espetado e olhos tristonhos. Passou uma estação encarando o sorriso e sendo encarada de volta, e então desceu.
Em seu lugar, um senhor barrigudo, de macacão azul de trabalho e falando ao celular, passou a encarar o sorriso recém nascido. Sorrindo, provavelmente personificava a pessoa na linha - a patroa, ou outro ente querido que o esperava em casa - na figura do vidro à frente.
Quando sua estação chegou, o senhor barrigudo deu lugar a um casal que mal notou o sorriso voyeur, e logo desembarcou, abrindo caminho à mulher de meia idade que lia um livro. Deve ter se sentido um tanto incomodada com a curiosidade do rosto sorridente em querer saber do que se tratava a obra.
Não sei se ela chegou a compartilhar da estória, já que minha estação chegou e eu desci, não sem mandar um até logo silencioso ao amigo do vidro, que seguiu em frente com o tram, sempre olhando para dentro e para fora ao mesmo tempo.
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